quarta-feira, 22 de abril de 2009

A violência urbana no Brasil

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" O Brasil é uma República cheia de
árvores e de gente dizendo adeus."
(Oswald de Andrade)

É certo que o Brasil é um país desigual, repleto de injustiças e totalmente avesso a educação, sendo, por vezes, justificativa para o incontrolável fenômeno da violência urbana. No entanto, tal conclusão não é absoluta, eis que, nem sempre, a primeira afirmação justifica a segunda.

Recentemente, no Rio, um lamentável episódio de violência gratuita e injustificável tomou conta dos noticiários brasileiros: a morte de uma gestante, recém-casada, de 32 anos.

Segundo relatos, a vítima e o marido foram abordados por quatro marginais ao pararem no semáforo, sendo rendidos sem que houvesse reação do casal. Não satisfeitos com a rendição, um dos marginais, em razão da dificuldade da gestante em desapertar o cinto de segurança, disparou 2 (dois) tiros a queima-roupa que acertaram a cabeça da gestante, que lamentavelmente não resistiu aos ferimentos, falecendo no hospital, porém teve o filho salvo pelos médicos.

Tal relato soma-se aos episódios do menino "João Hélio" (arrastado por um veículo até a morte por quilômetros), do "jovem casal Liana e Felipe" (ambos mortos de forma estúpida, agravado pelas constantes violências sofrida pela jovem no cativeiro) e tantos outros, que assombram e causam indignação pela crueldade e absoluta ausência de motivação.

É preciso colocar termo a certas hipocrisias e demagogias históricas neste país, estabelecer um concreto e verdadeiro choque de gestão nas políticas de segurança pública, bem como dinamizar e adequar as leis penais e processuais a realidade de um país violento como o Brasil.

Não obstante a Carta Magna de 1988 seja deveras garantista, a construção de normas voltadas a esfera penal basearam-se em crimes e abusos cometidos na década de 70, mais precisamente no período da ditadura militar, cuja realidade é completamente diferente da atual.

Dentre as polêmicas regras inseridas na Constituição Federal de 1988, destaca-se a vedação a pena de morte e proibição de trabalhos forçados. Em outras linhas, por se tratar de cláusula pétrea, as aludidas disposições contidas na Lei Maior não podem ingressar no sistema legislativo brasileiro, logo, a instituição de penas de morte, trabalho forçado e prisões perpétuas exigiriam a convocação de uma nova Assembléia Constituinte.

Apesar do imenso esforço legislativo e social que o caso exige, tal iniciativa promoveria a perfeita adequação das normas constitucionais a realidade social brasileira, posto que permitiria a inserção de normas penais mais rígida e, de quebra, abriria espaço a tão clamada Reforma Tributária.

Com efeito, a instituição da pena de morte no país não é uníssona, suscitando polêmicas, sobretudo quanto a aspectos religiosos e a possibilidade de se condenar um inocente. Data maxima venia, respeito as opiniões contrárias, porém levando a efeito os episódios acima narrados, onde os criminosos foram perfeitamente identificados pelas autoridades policias, qual seria a justificativa para afastar a pena de morte?

Nem se alegue a possibilidade de arrependimento e, posterior, reinserção social, eis que um sujeito que comete um homicídio com requintes de absoluta e extrema crueldade e/ou insiste em sucessivas práticas delituosas jamais poderá ser recolhido com o fim de recuperação, mas, sim, de afastá-lo do convívio social.

Ademais, convém consignar que ninguém aqui defende a morte de pessoas envolvidas em furtos, delitos de menor potencial ofensivo ou, até mesmo, roubos. A instituição da pena de morte é defendida para homicídas cujo traço psiquiátrico aponta o desejo contumaz de cometer atos criminosos, sequestradores e estupradores.

É preciso por fim ao discurso hipócrita que, por vezes, permeia o debate em torno da pena de morte no Brasil. Afinal, o criminoso tem a seu favor a impunidade e o cidadão de bem, que há pouco quiseram tomar até a arma registrada que possui, fato que o deixaria a mercê das ações criminosas destes facínoras, que, certas organizações, insistem chamar de seres humanos.



quarta-feira, 15 de abril de 2009

No Brasil, gado é transportado com mais respeito

"O que está faltando mesmo ao Brasil
e sempre faltou é uma elite dirigente
com compromisso com a coisa pública,
capaz de fazer neste País o que precisaria
ser feito: investimento em capital humano"
(Sen. Jefferson Peres)


Quando imaginamos já ter visto tudo neste país, eis que surge a "gentileza" dos funcionários da empresa responsável pelo sistema de trens no Rio de Janeiro. Em meio a pontapés, socos e "chicotadas" os funcionários empurravam os usuários na tentativa de fechar as portas de um trem superlotado, fruto da greve dos motoristas de ônibus.

O comportamento absolutamente reprovável destes agentes de controle (que na verdade nada controlam) causa repulsa e, ao mesmo tempo, vergonha ao saber que tais imagens rodarão o mundo, denegrindo a, já arranhada, imagem do Brasil no exterior.

Como se não bastasse o péssimo serviço operacional prestado por todos os meios de transportes públicos brasileiros, o Poder Público e suas concessionárias decidem apelar para a violência e humilhação daqueles que não dispõem de outro meio que não o trem, no caso.

Lamentável constatar dia-a-dia que a Constituição Federal, apesar de precisa e deveras humanista, é letra morta neste país, já que o respeito a dignidade da pessoa humana é constantemente achincalhado por aqueles que deveriam fazer valer as regras nela expressas.

É certo que esta não é a primeira, nem será a última barbárie em terras tupiniquins, porém este episódio afigura-se determinante para constatarmos o quanto o brasileiro é humilhado e tratado como coisa neste país. Inadmissível a conduta destes pseudo agentes de controle, cuja conduta reflete o despreparo administrativo e organizacional de todas as Administrações Públicas, sobretudo no trato com as pessoas.

Não é despiciendo lembrar que o Brasil, ao menos em tese, sediará uma Copa do Mundo, em 2014. Será esse o tratamento oferecido àqueles que se aventurarão a assistir o aludido evento esportivo no Estado do Rio de Janeiro e no Brasil como um todo????

De nada adianta o Brasil inserir-se no seleto grupo de países emergentes apenas pelo avanço tecnológico, número de indústrias, pretensos programas sociais de combate a desigualdade social se não houver, em caráter emergencial, uma profunda e definitiva "revolução comportamental", capaz de incutir no intelecto dos administradores princípios voltados ao respeito ao ser humano, ética, preocupação com a educação e civilidade.

Com razão o Senador Cristovam Buarque (PDT/DF), na campanha presidencial de 2006, buscou mostrar ao brasileiro que o caminho para o desenvolvimento inicia-se na educação. Sem que haja tal pressuposto, o Brasil será um país eternamente marcado pelo desrespeito, violência urbana e corrupção desenfreada, que sequer o carnaval e o futebol serão capazes de ofuscar.