segunda-feira, 7 de março de 2011

BRASIL, A SOCIEDADE DA INVERSÃO DE VALORES



"Queria ser como os outros e rir das desgraças da vida
(...) ver a leveza das coisas com humor"
(Via láctea - Renato Russo)



Bom dia, obrigado, por favor, com licença, perdão, são locuções interjetivas corriqueiras e de fácil penetração social, certo? No Brasil, ao menos, não!

É certo que a voracidade capitalista há tempos engole o dia-a-dia do trabalhador, a convivência familiar, seu lazer, etc. Contudo, há alguns anos, era inimaginável conceber que o sistema fosse capaz de "devorar", também, preceitos religiosos, valores éticos, conceitos familiares e simples regras de boa vivência social.

A verdade é que a barbárie intelecto social, fez abrupta, quiçá perene moradia nos lares brasileiros, impondo o que se alcunha de "ditadura do escárnio social". Atualmente, as crianças aprendem em casa o desrespeito ao semelhante, logo se estendendo aos professores, irradiando diferenças sociais e raciais, bem como culminando em muitos delitos, antes "privilégio" de individuos socialmente marginalizados.

Poderia, aqui, citar inúmeros e verossímeis exemplos que ilustram o fadonho e insistente apego de muitos à onda da aculturação, para não dizer estupidez instituída. No entanto, prefiro restringir-me às demonstrações de "pouca inteligência" neste período de festividade popular, como o carnaval.

Ora, mas por que o carnaval?

Elementar, prezado leitor e caríssima leitora. É que o carnaval, apesar de festa pagã e de historicamente reservar excessos por parte de alguns, transformou-se de uma vez por todas numa época de exceções.

Em outras linhas, o período de carnaval incute na cabeça destes "aculturados" a idéia de permissão total e irrestrita à prática de suas manifestações de pouca educação, por vezes temperada a vandalismos. No entanto, o pior de tudo, a meu sentir, é constatar a chancela e o assentimento daqueles que não se embebedam da fonte do escárnio.

A inversão de valores é tamanha que muitos cidadãos, na acepção da palavra, começam não só a relevar, mas, também, justificar dadas atrocidades humanas: carnaval é isso mesmo!

Não, carnaval não é isso!

É certo que a festa sempre teve forte apelo erótico e de liberdade comportamental, mas a sociedade jamais consentiu com determinados abusos, condenando, com certa veemência, a atitude dos marginais travestidos de "foliões".

Atualmente, é possível depreender que a sociedade não se espanta com sujeitos mal-intencionados que abusam do álcool para ofender (fisicamente ou moralmente) às pessoas, reflexamente cometer atrocidades no trânsito, etc.

E o que dizer da família, então? Pais, sob a justificativa de entreter os filhos, depredam patrimônios públicos, desfigurando bustos e estátuas de personalidades brasileiras, arrancando sorrisos dos filhos e dos demais, inclusive daqueles que deveriam zelar pelo bem histórico-cultural.

Ah, mas as brincadeiras continuam saudáveis, não é mesmo?

Já foi o tempo dos confetes e serpentinas, o país dos modismos agora entrega-se às "inofensivas" espumas de carnaval. Tal espuma ou "neve de carnaval", como queiram, seria tolerável, não fosse o hereditário espírito de porco juvenil de alguns.

É que muitos foliões utilizam o produto para, literalmente, provocar e machucar terceiros, dirigindo o aerosol nos olhos de pedestres e transeuntes, que nada tem a ver com a "festa'. A preocupação justifica-se no estudo da Faculdade de medicina da UNICAMP, in verbis:

"Os sulfactantes à base de côco (como a cocobetaína), substâncias químicas que garantem a quantidade e estabilidade da espuma, podem provocar dermatites de contato, que geram coceiras e até urticária. Se a espuma cair nos olhos, o ardor e a vermelhidão são certos. Nas crianças, os sintomas podem ser ainda mais sérios, porque os sulfactantes são muito utilizados na fabricação de xampus, mas dificilmente provocam alergias com este uso, porque o contato com a pele é breve e o produto é rapidamente enxaguado. O problema com as espumas de Carnaval, é que as crianças ficam horas com o produto em contato com a pele".(...) as alergias provocadas por espumas são classificadas como "de memória". Isso significa que se houver irritação da pele uma única vez, essa alergia poderá durar o resto da vida, podendo aparecer e desaparecer, sempre que a pessoa tiver contato com as substâncias contidas no produto."

Da leitura perfunctória deste estudo científico, é possível abstrair que o contato da substância química em partes sensíveis do corpo humano, como os olhos, pode ocasionar sérias consequências, sobretudo em crianças.

Evidente, a depender da situação fática e da idade do indivíduo, a subsunção ao caput do artigo 129 do Código Penal Brasileiro. No entanto, experimente levar o fato ao conhecimento da autoridade policial! Pois é, o Poder Público também incorporou, em partes, a idéia da excepcionalidade do período.

A questão comportamental sob exame é, sem dúvida, de alta indagação, exigindo seríssima auto-reflexão a fim de conhecer seus "porquês". Porém, de imediato, pode-se afirmar univocamente que o carnaval há muito deixou de ser uma simples festividade para se tornar verdadeira "válvula de escape" da estupidez e das mais variadas frustrações humanas.

Por derradeiro, exsurge a eterna dúvida: quem é o mocinho e o vilão de toda esta prosa carnavalesca?

7 comentários:

Anônimo disse...

qualquer festa ou manifestação popular vira isso mesmo: vandalismo, sujeira, embriaguês e drogas.

Anônimo disse...

Moradores de Ipanema reclamam do vandalismo de foliões de blocos


Os milhares de foliões que se divertem nos blocos que desfilam pelas ruas do Rio representam preocupação e prejuízo para os que moram ou trabalham na rota da folia. Na Avenida Vieira Souto, em Ipanema (Zona Sul), a maioria cercou seus canteiros, instalou grades nas entradas e reforçou o número de seguranças de plantão durante o Carnaval. No domingo, por exemplo, cem mil pessoas acompanharam o a folia do Simpatia é Quase Amor.

Administrador do condomínio Itacurussá, o potiguar Vicente Felizardo, de 63 anos, afirma que todo Carnaval é preciso montar uma "operação de guerra" para reduzir o impacto da passagem dos blocos.

De acordo com ele, a falta de educação de muitos faz com que a rotina de toda a Vieira Souto tenha de ser alterada. "A gota d´água foi há seis anos, quando a garagem ficou alagada com urina", conta Vicente, cujo prédio não possuia o gradil. "Desde então, quando começam os ensaios de blocos, cercamos com grades de madeira, reforçamos o número de seguranças. Eu mesmo, que não trabalho durante fins de semana e feriados, fico de plantão", afirma.

Anônimo disse...

Casos de racismo lideram denúncias de preconceito em Salvador


O boletim do Observatório de Discriminação Racial, da Violência contra a Mulher e LGBT, divulgado nesta terça-feira pela Secretaria Municipal de Comunicação (Secom) de Salvador, indica o crescimento dos casos de racismo no Carnaval 2011.

Segundo a nota, foram 135 casos de ofensas raciais registrados até a manhã desta terça-feira, indicando 55,61% do total das denúncias recebidas pelo órgão. Mesmo assim, segundo a Secretaria Municipal da Reparação (Semur), houve uma redução considerável em relação a 2010 - no mesmo período, foram mais de 200 casos no ano passado.

A parcial apresenta também 62 agressões contra mulheres, ou 27,81% dos casos até as 20h desta segunda-feira. Já as agressões contra lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis foram 16,58% do total, ou 31.

O Observatório da Discriminação tem unidades instaladas em quatro pontos de Salvador: Ladeira de São Bento, Estação da Lapa, Campo Grande e Ondina. Em todos os postos, a vítima de discriminação pode registrar sua reclamação com a equipe de observadores montada pela Semur, que atende até o final do Carnaval.

Anônimo disse...

Parabéns, belo post.

Anônimo disse...

Odeio gente gritando na rua, odeio bêbado andando por toda cidade, odeio falta de noção das pessoas dirigindo e bebendo na maior cara-de-pau, odeio o carnaval.

Anônimo disse...

Pra mim, carnaval nada mais é que um bando de bêbados(as), desocupados(as) que acham divertido curtir com a cara dos outros e arrumar confusão p/ onde passam.

Anônimo disse...

Além do trânsito e estradas caóticas, e o grande número de carros rodando nas estradas, temos um problema enorme que precisamos encarar e deixar de esconder, e consentir, que é a venda do vício, estamos criando uma sociedade de Alcoólatras. E no carnaval se torna bem mais propenso, pelo o momento de euforia, e por ser prolongado a festividade. As nossas veias foram feitas para transportar sangue ,no entanto tem transportado, álcool e gordura. Se não há mobilizaçao pelo menos para proibir a propaganda como fizeram com o cigarro, teríamos que implantar e advertir as consequencias da bebida, e informar que ela causa dependência quimica. Agora acho difícil , porque a alma do negócio é criar a dependência química sobre as pessoas.